sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Lucius - Rozilda Euzebio Costa

Texto de Rozilda Euzebio Costa

Numa pequena comunidade ao Norte de um país chamado X, perto de um conjunto de montanhas belas e imponentes, vivia um homem cuja idade já ultrapassava os 40 e ainda não havia se casado. Levava uma vida solitária e não pensava em arrumar uma companheira para lhe fazer companhia em seus dias de solidão.

Bem, este homem se chamava Lucius. Sua pele era clara, olhos tão castanhos e enigmáticos que atraia todas as moças daquela região. Ele tinha cabelos grisalhos e barba sempre por fazer, gostava de ter barba porque ela dava a ele certa imponência e uma aparência um pouco rústica e misteriosa.

O fato é que naquela pequena comunidade, também vivia Padre Caio, um sacerdote que era amigo de todos. Cuidadoso de suas ovelhas preocupava-se com cada uma delas. Vivia naquela comunidade há 10 anos, participava da vida de cada morador, havia batizado muitas crianças em sua Paróquia, e fizera incontáveis casamentos. Todos até então, ainda permaneciam intactos, coroados com a felicidade e as bênçãos de Deus.

Lucius era uma ovelha muito especial para Padre Caio, pois sempre o ajudou na Paróquia, inclusive fornecendo verbas para a manutenção da mesma.

Padre Caio não compreendia porque Lucius ainda não arranjara uma noiva para se casar, pois sempre ouvia da comunidade muitos falatórios sobre moças que eram desejosas de se tornar a esposa de Lucius.

Certo dia, Padre Caio percebeu que Lucius estava triste, bastante pensativo, imaginou logo que a causa era a falta de uma companheira. Resolveu que teria uma conversa com ele, mas antes, tomou conhecimento de todas as candidatas possíveis de se tornar a esposa de seu amigo e servo querido. Iria então arranjar uma esposa para Lucius.

Já decidido, Padre Caio mandou chamar Lucius na Paróquia para conversar. Ele prontamente atendeu seu chamado. Sentaram em um dos bancos próximo ao altar da Igreja e começaram a dialogar:

- Padre Caio, o senhor mandou me chamar? – perguntou Lucius, ávido para saber o real motivo daquele convite.

- Sim filho. Tenho um assunto de grande importância a tratar com você. – disse o Padre.

- Então fale Padre! Estou aqui pra isso.

- Você precisa se casar. – falou o Padre. Sem rodeios, indo diretamente ao ponto.

- Casar?! Ficou doido Padre? Ah, desculpe Padre... Desculpe. Não quis falar assim com o senhor, mas é... é que... nunca havia pensado nisso, sabe! Imagine o senhor, que casamento é uma coisa muito séria! Além do mais... – Lucius silenciou.

- Além do mais... o que meu filho? Falta de candidatas não é. Tem a Flaviana, a Henriqueta, a Gabriela, a Tereza, a Elda, a Aninha, a... aquela... como se chama mesmo? A filha do prefeito que estudava fora e retornou pra cidade há poucos dias? – Lucius interrompeu o padre:

- Não acredito Padre! Onde conseguiu arranjar tantas candidatas pra se casar comigo?! Quem são essas moças?! – perguntou Lucius bastante surpreso com as revelações do Padre.

- Ora Lucius, por favor! Confie em mim. Sei que todas elas são apaixonadas por você. O que não lhe faltam são candidatas pra ser sua esposa. Eu só quero ajudar você a ser feliz, a ter uma família meu filho! Eu me preocupo mesmo com você. E sabe de uma coisa; eu sonho celebrar seu casamento!

- Padre, Padre... Ouça bem o que vou lhe dizer: - só me casarei por amor. Por amor! Entendeu Padre? Estas moças podem até ser apaixonadas por mim, mas eu não as amo, entende? Quero me casar com uma pessoa que eu realmente ame com toda a força do meu coração. Que me faça sentir a vontade de continuar vivendo e construindo na minha vida. Que me encha de entusiasmo a cada amanhecer. Que me faça desejar ter filhos, gerar vidas, deixar minha descendência, e também, que deixe o meu coração mais leve. Sabe Padre, casar não é só escolher uma bela companhia e levar para o altar, tem que haver muito amor. – disse Lucius, expondo seu ponto de vista ao Padre.

Depois de todas estas declarações, Padre Caio imaginou que talvez Lucius já tivesse uma candidata que ninguém ainda havia descoberto. Um amor secreto. Resolveu questiona-lo:

- Lucius...

- Pode falar Padre!

- Você tem alguma moça em mente, com quem gostaria de se casar?

- Como assim padre, alguma moça? Que moça?!

- É isso que eu quero saber, meu filho! Que moça?!

- Padre, na verdade eu amo uma moça sim, mas... – Lucius silenciou e o Padre com toda a sua curiosidade aflorada, perguntou com ânsia:

- Diga Lucius! Diga meu filho! Quem é essa moça e o que o impede de falar sobre ela? Não me deixe nessa agonia!

- Sabe Padre, ela é...

- Vamos! Fale logo! Fale de uma vez homem!

- É Lívia. Pronto, falei.

- Meu Deus! Lívia?! Aquela mulher que tem um filho não se sabe de quem? Aquela que trabalha na casa da Sra. Margarida? Aquela que já tem quase a sua idade?! - o padre não compreendia porque Lucius se apaixonara por uma mulher que já não era tão nova, tinha quase a idade de Lucius, e ainda tinha um filho de outro homem! Não era preconceito, mas ele, o Padre, imaginava uma esposa mais jovem e que pudesse dar muitos filhos a Lucius.

- Para com isso Padre! Porque esta cara de espanto? O senhor não entende! É a Lívia que eu amo! Nunca disse isso pra ninguém. Desde a primeira vez que a vi me apaixonei por ela, e nunca mais deixei de pensar nela um dia sequer. Padre, a vida é mesmo assim. O amor não se justifica pela vontade do homem, mas pela vontade de Deus. O senhor como um sacerdote sábio deveria saber que Deus possui uma maneira muito especial de nos fazer feliz, de nos ensinar a amar e aprender com as pessoas que Ele coloca em nosso caminho. Eu chamo de destino, o fato de nos apaixonarmos por pessoas que nunca imaginávamos amar. Amei Lívia desde o primeiro dia que a vi, e tenho certeza, ela é a mulher da minha vida. - concluiu Lucius.

- Talvez você esteja certo filho, mas não me conformo. Não me conformo mesmo. Se ao menos tentasse conhecer melhor a filha do Sr. Juarez, aquela moça tão meiga.. – Padre Caio foi interrompido.

- Padre! Padre, ouça bem; não é esse tipo de vida que eu desejo viver! Não posso inventar um amor por alguém! Eu sei que o senhor deseja o melhor para mim, mas eu não me casarei se não for por amor.

- Desculpe meu filho. Você tem razão. Eu é que estou sendo crítico e preconceituoso mesmo. São os pecados da minha mente ainda em evolução. Talvez você, mesmo não sendo um sacerdote como eu, tenha uma alma mais evoluída que a minha. Estou errado e até começo a me sentir envergonhado por suas palavras. Não se deve mesmo forçar um casamento sem amor, porque isso somente lhe causaria sofrimento na vida. Além do mais, Lívia é uma boa mulher sim! Nunca a vi se comportando de forma errada. Porque você não pede logo a mão de Lívia em casamento? Eu realizarei a cerimônia com muita alegria.

- Sabe padre, eu até gostaria, mas nunca tive coragem de dizer a ela que eu a amo. Temo que ela não acredite em mim. Ela é uma moça muito sofrida Padre! Ela foi enganada pelo pai do filho que teve. Ele a fez sofrer muito...

- Mas porque não acreditaria meu filho? Você precisa tentar, entende? Tentar!

- Estou procurando coragem. Quando encontrar esta coragem a pedirei em casamento, o senhor vai ver. Tem mais uma coisa que quero lhe dizer: – será o casamento mais bonito que o senhor celebrará aqui em sua Paróquia. – disse Lucius com entusiasmo.

***
A vida de Lucius continuou na mesma rotina por mais algum tempo, com a diferença de que as palavras de conforto e esperança que Padre Caio lhe transmitia o deixava mais confiante. Já que agora também, o Padre já sabia de seu amor por Lívia.

Padre Caio vez ou outra procurava aproximar Lucius de Lívia, e aos poucos percebia uma mudança no humor de seu amigo. Sentia que Lívia parecia realmente ser a mulher do destino de Lucius, inclusive, já estavam se tornando bem mais próximos um do outro. Isso já era uma grande esperança para que se cumprisse o destino dos dois, que era de uma grande união e de um casamento muito feliz.

***
Tempos depois, com mais serenidade, Lucius tomou coragem e declarou seu amor a Lívia, e para a sua alegria, ela também revelou que o amava e que era apaixonada por ele desde quando o viu prestando serviços voluntários à Igreja, cheio de bom humor, coisa que ela valorizava muito em uma pessoa. A certeza de que ele era o homem de sua vida foi tão forte, que ela soube no mesmo instante que havia encontrado o seu verdadeiro amor, o homem do seu destino. Ela sabia que era só questão de tempo, para se unir a ele pelos laços do verdadeiro amor.
Assim Padre Caio finalmente concretizou seu maior desejo; o de celebrar o casamento de Lucius, para que ele finalmente formasse sua própria família e não vivesse mais tão sozinho.

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